Estudos mostram como traumas sofridos podem ocasionar mudanças comportamentais nas próximas gerações
por Rogério Tuma — www.cartacapital.com.br
A doutora Isabelle Mansuy, do Instituto de Pesquisa sobre o Cérebro da Universidade de Zurique, estudou os processos moleculares, não genéticos herdados de uma geração para outra após experiências traumáticas na infância e descobriu um tipo de molécula que pode ser responsável por esse aprendizado que é transferido para os filhos. São os fragmentos curtos de RNA ou microRNA.
O RNA é sintetizado dentro dos núcleos das células por enzimas que conseguem ler o nosso código genético, que é escrito no DNA. O RNA é então transportado para o corpo da célula, o citoplasma, onde serve de molde para a produção de proteínas nos ribossomos, que são as fábricas destas.

A pesquisadora e seus colaboradores mediram a quantidade desses microRNA nas células de ratos que passaram por trauma logo no início da vida, isto é, foram separados das mães logo ao nascer e as compararam com as células de ratos que não sofreram trauma e descobriram que o estresse do trauma é responsável por mudanças na concentração de diversos tipos de microRNA no sangue, cérebro e esperma. Alguns tipos de microRNA sofriam aumento e outros redução em sua concentração nesses tecidos.
Depois do trauma, os ratos mudavam radicalmente seu comportamento, deixavam de ter medo de lugares abertos e iluminados e tinham comportamento depressivo. A depressão em ratos pode ser medida por falta de movimentação e iniciativa de busca por comida e redução na interatividade com outros ratos. Esses comportamentos a pesquisadora descobriu, eram herdados por sua prole por meio do citoplasma dos espermatozoides. Quando o espermatozoide fecunda o óvulo não só seu núcleo entra no óvulo, mas uma parte do citoplasma que é rico em microRNA também entra, e os filhotes já nascem com o comportamento semelhante aos seus pais e o metabolismo alterado, com níveis de insulina e açúcar mais baixos que os filhotes de ratos sem estresse. Foi a primeira vez que um estudo comprovou que o estresse pode provocar mudanças que perduram por muito tempo e que podem até ser transferidos para outras gerações.
A pesquisadora também recolheu microRNA de células de ratos com estresse e os injetou em embriões de ratos sem estresse, e ao nascer esses filhotes também apresentavam comportamento semelhante ao dos ratos estressados.
Os pesquisadores acreditam que esse fenômeno também ocorre em humanos e agora estudam os tipos de microRNA e sua função específica.
Normalmente, mudanças no código genético demoram milhares de anos para ocorrer, a mudança que ocorre rapidamente e por ação do meio ambiente é chamada de epigenética. Esse fenômeno pode ter uma participação na causa de doenças como obesidade, depressão e até esquizofrenia e explica também por que existe um salto adaptativo a novas tecnologias de uma geração para a outra. Imagine seu avô com 5 anos mexer em um tablet, e note que hoje em dia qualquer criança com 2 anos o manuseia como um expert.
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