quarta-feira, 30 de abril de 2014

Cachorro mordido por cobra...

Estudos mostram como traumas sofridos podem ocasionar mudanças comportamentais nas próximas gerações

por Rogério Tuma — www.cartacapital.com.br

A doutora Isabelle Mansuy, do Instituto de Pesquisa sobre o Cérebro da Universidade de Zurique, estudou os processos moleculares, não genéticos herdados de uma geração para outra após experiências traumáticas na infância e descobriu um tipo de molécula que pode ser responsável por esse aprendizado que é transferido para os filhos. São os fragmentos curtos de RNA ou microRNA.
O RNA é sintetizado dentro dos núcleos das células por enzimas que conseguem ler o nosso código genético, que é escrito no DNA. O RNA é então transportado para o corpo da célula, o citoplasma, onde serve de molde para a produção de proteínas nos ribossomos, que são as fábricas destas.
Os microRNA são pequenas moléculas de RNA que circulam em fartas quantidades pelo citoplasma, mas não servem como moldes. Elas têm a função de controlar a produção de proteínas.
A pesquisadora e seus colaboradores mediram a quantidade desses microRNA nas células de ratos que passaram por trauma logo no início da vida, isto é, foram separados das mães logo ao nascer e as compararam com as células de ratos que não sofreram trauma e descobriram que o estresse do trauma é responsável por mudanças na concentração de diversos tipos de microRNA no sangue, cérebro e esperma. Alguns tipos de microRNA sofriam aumento e outros redução em sua concentração nesses tecidos.
Depois do trauma, os ratos mudavam radicalmente seu comportamento, deixavam de ter medo de lugares abertos e iluminados e tinham comportamento depressivo. A depressão em ratos pode ser medida por falta de movimentação e iniciativa de busca por comida e redução na interatividade com outros ratos. Esses comportamentos a pesquisadora descobriu, eram herdados por sua prole por meio do citoplasma dos espermatozoides. Quando o espermatozoide fecunda o óvulo não só seu núcleo entra no óvulo, mas uma parte do citoplasma que é rico em microRNA também entra, e os filhotes já nascem com o comportamento semelhante aos seus pais e o metabolismo alterado, com níveis de insulina e açúcar mais baixos que os filhotes de ratos sem estresse. Foi a primeira vez que um estudo comprovou que o estresse pode provocar mudanças que perduram por muito tempo e que podem até ser transferidos para outras gerações.
A pesquisadora também recolheu microRNA de células de ratos com estresse e os injetou em embriões de ratos sem estresse, e ao nascer esses filhotes também apresentavam comportamento semelhante ao dos ratos estressados.
Os pesquisadores acreditam que esse fenômeno também ocorre em humanos e agora estudam os tipos de microRNA e sua função específica.
Normalmente, mudanças no código genético demoram milhares de anos para ocorrer, a mudança que ocorre rapidamente e por ação do meio ambiente é chamada de epigenética. Esse fenômeno pode ter uma participação na causa de doenças como obesidade, depressão e até esquizofrenia e explica também por que existe um salto adaptativo a novas tecnologias de uma geração para a outra. Imagine seu avô com 5 anos mexer em um tablet, e note que hoje  em dia qualquer criança com 2 anos o manuseia como um expert.

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